Com apenas alguns toques e comandos, é possível roubar até R$ 1 milhão de contas bancárias. E sem ameaças de morte e nem armas de fogo como pistolas e metralhadoras. Na chamada “Geração Y”, jovens de classe média alta e “feras” em informática estão utilizando a Internet como uma arma poderosa para roubar verdadeiras fortunas, em pouco tempo.
Aliados ao crime organizado e a policiais, jovens desafiam a segurança pública em crimes quase perfeitos. Foi o que confirmou a “Operação Playboy”, que prendeu oito pessoas no mês passado e ainda caça, pelo menos, mais oito integrantes da gang, entre elas, mais policiais.
A operação desarticulou, no último dia 13, um ‘esquema inteligente’ e diferenciado de clonagem de cartões, formado por jovens de classe média alta da Paraíba e de Pernambuco, que tinha um soldado da Polícia Militar paraibana como um de seus chefes. “Identificamos mais gente envolvida e parte do grupo continua agindo”, afirma o delegado titular do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil (GOE), Jean Francisco Bezerra Nunes, que coordenou a operação.
Pesquisador na área de cibercrimes e ciberterrorismo, o tenente coronel da Polícia Militar da Paraíba, Arnaldo Sobrinho de Morais Neto, revelou que nessa “rede inteligente de crimes”, que possui um alto aparato tecnológico e fatura milhões de reais, uma lista com aproximadamente 500 nomes de vítimas com alto poder econômico pode ser vendida na Internet por até R$ 100 mil. Roubo de mais de R$ 3 mi
Em apenas um ano e meio, o grupo preso durante a Operação Playboy roubou mais de R$ 3 milhões de centenas de vítimas, em pelo menos quatro Estados já identificados (Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas). Esse valor daria para construir 200 casas populares (cada uma no valor de R$ 15 mil) para paraibanos que moram em área de risco da Capital. Segundo o delegado do Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil (GOE), Jean Francisco Bezerra Nunes, o número de vítimas do grupo e o valor roubado podem ser muito maiores.
O delegado informou que sete dos oito presos continuam detidos. Os acusados tiveram a prisão preventiva decretada, no último dia 20. Seis deles estão no Presídio do Roger e o soldado no 1º Batalhão de Polícia Militar da Capital.
“O que chamou a atenção foi a forma diferenciada como o grupo clonava os cartões e esbanjava o dinheiro roubado. As denúncias que tivemos é que acendiam cigarro com notas de R$ 50. Estamos investigando se também havia drogas, como maconha e cocaína. O soldado Siqueira, um dos chefes, comprou um veículo Golf, à vista, por R$ 38 mil”, observou o delegado do GOE. Ele disse que a maior parte da gang é de jovens de classe média alta, que querem ter uma vida de playboys, de alto luxo.
“Um dos chefes, Felipe Britto Germoglio, é filho de uma médica da Paraíba. Ele começou a pesquisar na Internet como funcionavam os esquemas e como não queria trabalhar para ninguém, passou a arregimentar pessoas e formou o seu próprio grupo”, revelou o delegado Jean Francisco Nunes. Bandidos são ases da informática
O pesquisador na área de cibercrimes e ciberterrorismo, tenente coronel da Polícia Militar da Paraíba, Arnaldo Sobrinho de Morais Neto, disse que os crimes praticados pela Internet têm feito, a cada dia, um número maior de vítimas. Essa “rede inteligente de crimes” é formada por jovens da “Geração Y”. Segundo ele, são pessoas que praticamente nasceram dominando a Internet e seus serviços. Com muita facilidade, crackers fazem transferências, compras on line no nome de vítimas de vários Estados, clonagem e até empréstimos.
“Os integrantes dessa geração ‘top’ são jovens que nasceram de 1980 pra cá, um período de grande revolução tecnológica. Essas pessoas usam a tecnologia para a rápida ascensão social. Grande parte dessa geração acaba seguindo o curso normal da vida, consegue bons empregos na área de tecnologia da informação, mas muitos acabam ingressando nesse caminho dos cibercrimes”, afirmou o coronel Arnaldo Sobrinho.
Segundo o pesquisador, os jovens dessa “Geração Y” não se acomodam e estão sempre em busca de novos desafios. E, muitas vezes, alguns deles encontram no crime uma forma desafiadora de ganhar a vida. Por trás da tela do computador, essas pessoas anônimas praticam crimes que rendem muito dinheiro. “Esses jovens são pessoas que não deixam transparecer desvio de conduta, estão acima de qualquer suspeita e são preocupadas com as causas sociais”, observou o coronel Arnaldo.
Um policial paraibano, que não quis se identificar, revelou que o PM da Paraíba, Siqueira, preso na Operação, é um ótimo colega de trabalho. “Ninguém jamais imaginaria que ele cometia esse tipo de crime. É bom companheiro, solidário e muito solícito. Tem um ótimo comportamento”, comentou.
Grupos enviam e-mails ‘espiões’
Integrante da Associação Internacional de Prevenção e Combate aos Crimes Cibernéticos (AILCC), que possui um escritório na Paraíba, o coronel Arnaldo Sobrinho explicou que uma das formas de agir de quadrilhas de crackers e cibercriminosos é enviar e-mails “espiões” em massa para milhares de usuários.
“Esses e-mails são perfeitos e, muitas vezes, enganam até quem está atento. O usuário desavisado acaba instalando na sua máquina um programa ‘espião’ e o seu computador passa a ser um micro ‘zumbi’, que passa a ser monitorado à distância por bandidos high tech”, explicou o coronel Arnaldo.
Ele disse que quando o usuário vai fazer compras on line ou acessar suas contas bancárias pela web, seus dados, senhas e número de contas são capturados pelos crackers. “De posse de dados de centenas de vítimas, esses piratas de computador têm infinitas possibilidades de crimes. Podem clonar cartões bancários, fazer compras em sites, transferências e empréstimos”, informou Arnaldo Sobrinho.
Usuários facilitam e se tornam alvos
Para Marco Túlio de Mesquita Porto, formado em Tecnologia de Sistemas para Internet, muitos crimes pela Internet acontecem porque os usuários facilitam e se tornam “alvos” fáceis desse tipo de bandido. “Muitas pessoas têm o programa pirata do Windows, não atualizam o antivírus e isso dá brecha para entrada de vírus, ‘cavalos de tróia’, que ajudam a capturar dados, senhas e informações dos usuários. O primeiro passo é se prevenir, não usando as mesmas senhas para todos os serviços utiliza, como orkut, twitter, facebook e passando a usar senhas com pelo menos oito caracteres, misturando letras, números e símbolos”, ensinou.
Crime na palma da mão via celular
Com a tecnologia e os smartphones, é possível ter um mini computador conectado à Internet na palma da mão. Com isso, segundo o coronel Arnaldo Sobrinho, o índice de cibercrimes tem aumentado com muita facilidade. “O risco é o encarceramento desses cibercriminosos com outros presos comuns, em presídios, possibilitando essa ‘transmissão de conhecimento’ e de táticas criminosas. O sistema prisional está atento a essas questões”, comentou o coronel Arnaldo Sobrinho.
Mundo virtual uniu ‘Playboys’
Foi no mundo virtual dos sites de bate papo e relacionamento que o “grupo dos Playboys” se conheceu. De acordo com o delegado do GOE, Jean Francisco, o jovem Felipe Germoglio começou a comprar pela Internet máquinas sofisticadas de gravar cartões e programas específicos para copiar dados dos cartões das vítimas.
“Em comunidades virtuais de sites como o ‘mirc’, eles conseguiram dados dos cartões que seriam clonados. Só em janeiro passado, Felipe comprou o ‘cadastro’ de 70 pessoas. Cada vítima custa, em média, R$ 100, mas ele negociou por R$ 50 cada. Ele não revelou mais detalhes de quem forneceu a lista de vítimas”, contou o delegado.
Por R$ 20 mil, o grupo conseguiu comprar na Internet um programa que faz a transferência de dados de um cartão para o outro. “O grupo pegava um cartão de um dos integrantes – geralmente o Hiper – e clonava o limite de crédito da vítima. A organização chegou a comprar no cartão até um jet sky, no valor de R$ 35 mil”, explicou Jean Francisco, acrescentando que cada integrante tem uma tarefa específica no grupo.
Como o grupo agia
O grupo se conheceu através da Internet, no site de bate papo mirc.
O segundo passo foi pesquisar na rede equipamentos e programas
para clonagem de cartões de crédito.
O grupo compra na Internet uma máquina gravadora de cartões por R$ 20 mil, chamada por eles de “régua” e compra também um programa específico por R$ 20 mil.
O próximo passo foi a negociação e a compra pela Internet da lista das futuras vítimas. Cada cadastro com dados de uma vítima custa, em média, R$ 100. Mas, dependendo da quantidade de vítimas, o preço pode ser negociado.
Com a máquina de gravar cartões de crédito, que pode ser conectada no computador, e o programa que copia dados, o grupo desenvolveu uma forma diferenciada de clonagem de cartões e fraudes. Um crime quase perfeito.
A clonagem funciona da seguinte forma: O policial militar Siqueira e Felipe Britto, considerados chefes do grupo, pegavam cartões de crédito legítimos, feitos pelas operadoras, e copiava neles, usando o “programa específico” o limite de crédito de cartões de vítimas, geralmente de outras cidades e com alto poder de compra. Dessa forma, o fraudador fazia compras on line e nas próprias lojas, usando o próprio cartão com limite de crédito adulterado. A fatura ia para a vítima, com compras de motos e até de jet skys, no valor de R$ 35 mil.
Depois de colocarem “crédito” nos cartões dos integrantes do bando, o PM e Felipe mandavam os comparsas fazerem compras, indicando o tipo de produtos que deveriam comprar. Os integrantes entregavam as compras aos “chefes”, que revendiam os produtos (aparelhos de ar condicionado, pneus, motos, etc.) e davam aos comparsas de 10% a 20% das vendas. Algumas Dicas de como se proteger
1) Não use as mesmas senhas para todos os serviços online que você utiliza (gmail, orkut, twitter, facebook, etc.)
2) Escolha senhas diferentes com pelo menos oito caracteres, misturando letras, números e símbolos.
3) Não coloque senhas com datas do seu aniversário ou de filhos, nem nome da sua profissão.
4) Não abra e-mails suspeitos e
5) nem baixe no seu computador. Lembre: Bancos não mandam e-mail pedindo para atualizar cadastro. Quando receber um e-mail desse tipo não abra, delete!
6) Cuidado ao utilizar a Internet em lan houses. Computadores podem ter “programas espiões” que vão copiar seus dados.
7) Cuidado ao comprar produtos e serviços pela Internet. É bom saber a procedência desses sites antes de cadastrar seus dados.