Um
dos últimos cangaceiros do bando de Lampião e Maria Bonita, José
Antônio Souto, 100 anos, morreu na tarde desta segunda-feira em Belo
Horizonte, onde morava com a família. Moreno, como era conhecido no
cangaço, entrou para o bando a convite do cangaceiro Virgulino, um dos
integrantes do grupo, depois de ser barbeiro, caseiro e três vezes
rejeitado pela polícia. O corpo de Moreno foi enterrado na manhã desta
terça-feira no cemitério da Saudade, na capital mineira.
Ele
vivia em Minas Gerais há 70 anos e segundo familiares veio para o
Estado procurar tranqüilidade para viver com a mulher, Jovina Maria da
Conceição, conhecida com Durvinha. Em 2008, o cangaceiro contou para o
Terra que havia deixado o cangaço após os pais, amigos e um padre
pedirem para eles abandonarem a vida cheia de riscos. Além disso,
segundo a família, Durvinha tinha medo de ser degolada.
Segundo
Nely Maria da Conceição, 60 anos, filha do casal, o pai já pedia para
morrer há mais de dois anos, sempre chamando pela mãe. "Depois da morte
de mamãe em 2008 meu pai entrou em depressão e sempre falava assim
'Mãezinha vem em me buscar. Já vi tudo que tinha pra ver. Quero
encontrar Durvinh' ele estava sofrendo muito" disse.
Nely
ainda conta que o fato de tanto Moreno quanto Durvinha serem enterrados
em túmulos era considerado uma benção pelo pai. "Ele nos contava que no
cangaço decapitavam os cangaceiros, mostravam a cabeça para o público e
deixavam os corpos perdidos. Para meu pai, ser enterrado em um
cemitério era uma coisa muito boa, uma benção. Por isso resolvemos fazer
o que ele pediu, soltar foguetes no momento do sepultamento" afirmou.
A
família ficou sabendo a verdadeira história do casal apenas em 2005,
depois que Moreno, com problemas de saúde, revelou ter matado muitas
pessoas e que abandonara um filho. Noeli da Conceição, uma das filhas do
casal, também conversou com o Terra em 2008 e disse que chorou muito
depois que descobriu o passado dos pais. "Eu estudei tudo aquilo que era
o cangaço, sabia das atrocidades que eram cometidas, e meu pai me
contou que fazia parte deles. Fiquei chocada. Fui para o banheiro,
chorei muito e liguei para o meu namorado para contar a descoberta",
contou.
A
partir desse ponto, Noeli encontrou o primeiro filho do casal, Inácio
Carvalho de Oliveira, que hoje vive no Rio Janeiro como policial
aposentado. Ele também esteve no enterro. O casal de ex-cangaceiros
também recebeu homenagem em um livro "Morenos e Durvinha, amor e fuga no
cangaço" escrito por João de Souza Lima.